A Musicoterapia como um
manual de instruções para o autismo
O autismo provoca diversas alterações nos mecanismos neurológicos
de uma pessoa, inclusive na audição. E faz com que ela apresente padrões de
percepção e resposta ao mundo alterados em comparação com aqueles considerados
dentro da “normalidade”. Uma das formas de tratamento utilizadas para amenizar
essas alterações é a Musicoterapia.
A autora do artigo, Clarisse Prestes, afirma que pretendia
conferir, a partir de uma avaliação da família, em quais pontos o tratamento
com a Musicoterapia apresenta benefícios para a vida de uma criança autista.
Ela alega que buscou, especificamente, verificar quais ganhos obtidos durante
os atendimentos realizados no ambiente terapêutico são extensivos à vida da
criança.
Para elaboração do artigo foi acompanhado o tratamento de um
menino autista com base na avaliação de sua mãe. O tratamento foi realizado
durante um ano, uma vez por semana. Foram apanhados dados do histórico
sonoro-musical dele a partir de uma ficha musicoterápica respondida por ela.
Após esse ano, foi realizada outra entrevista que abordou questões
como a importância da Musicoterapia na vida da criança; a existência de uma
sensibilidade auditiva diferente e uma escuta seletiva; a contribuição da
música da experimentação e compartilhamento de sentidos e emoções; uma melhora
na qualidade de comunicação em geral; a abertura para a subjetividade; e uma
ampliação da capacidade de integração social e do repertório de interesses,
oportunizando uma saída da condição de isolamento.
A pesquisadora ressalta que na musicoterapia a presença do
terapeuta é crucial e possui significação central no processo. O tratamento
contribui para a melhora da capacidade cerebral de assimilar e tolerar os sons,
na interação nas atividades do dia a dia e ajuda a romper e flexibilizar, a
partir dessa interação musical, padrões ritualísticos e não funcionais como
movimentos estereotipados (agitar e torcer as mãos, por exemplo).
É possível perceber, a partir da fala da mãe, que houve uma
melhora na pronúncia das palavras; na tolerância dos sons como do
liquidificador; na assimilação de sons, ele passou a atender chamados, se
cantados; além de uma abertura às brincadeiras. A criança percebe de uma
maneira prazerosa essa sonoridade e acaba respondendo a esses estímulos de uma
maneira diferente da convencional, como a possibilidade de relacionamento com o
outro.
A mãe resume nesta afirmação sua visão da importância da música na
vida do filho: “A música em si já é algo libertador. Para o L. é mais do que
isso, ela nos transporta junto com ele para uma frequência em comum. A música
para ele completa tanto um momento de diversão solitária quanto uma satisfação
de compartilhar sua grande predileção com quem ele gosta. Parece que esse
menininho veio à Terra programado para estar guardado em seu mundo, mas,
felizmente, com ele veio um manual de instruções de como fazer para
acessá-lo... e esse manual está escrito em notas musicais”.
PRESTES, Clarisse. MUSICO TERAPIA: ESTUDO DE CASO DE UMA CRIANÇA
AUTISTA. Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde, Instituto Vila Una.
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