Em uma breve entrevista a Diretora do Centro de Atendimento ao
Autista Dr. Danilo Rolim de Moura, Débora Jacks, responde algumas questões que
permite entender melhor qual é o verdadeiro papel social do Centro e o trabalho
que ele vem desenvolvendo desde sua inauguração em 2 de abril de 2014.
Como surgiu a iniciativa de criar um centro especializado que
atendesse aos portadores de Transtornos do Espectro Autista (TEA)?
Os principais responsáveis pela criação do Centro são os
familiares de pessoas com TEA e vários profissionais engajados nessa luta.
A iniciativa da criação desse espaço surgiu da luta de mães e
familiares de pessoas que possuem o TEA. Por meio delas foi criado um projeto
que a principio seria junto com a Secretaria da Saúde e com participação da
Secretaria da Educação. Após ser encaminhado para voto na consulta popular o
projeto foi selecionado. Uma verba de 300 mil reais foi disponibilizada para
recursos pedagógicos. Com isso, a Secretaria da Educação assumiu a
responsabilidade de criar o Centro e o foco foi direcionado para a educação.
O que muda quando o foco está na educação e não na saúde?
Quando o foco é a saúde os atendimentos são clínicos (como fonoaudiólogo,
neurologista etc.). Quando o foco é a educação o trabalho é voltado às terapias
necessárias para o desenvolvimento pedagógico e educacional da pessoa que
possui TEA – são oferecidas atividades como atendimento educacional
especializado, estimulação essencial, tecnologia assistiva, musicoterapia etc.
Buscando a inclusão das crianças e jovens na rede regular de ensino.
Qual é a capacidade máxima de alunos do Centro?
O Centro tem uma estrutura que permite o atendimento em média de
170 alunos. Hoje, com três meses de funcionamento já são 130 matriculados.
Temos ainda espaços para ampliar e receber mais profissionais, então conforme a
chegada destes poderemos atender estes restantes até atingir a capacidade
máxima.
Qual a faixa etária das crianças atendidas e até que momento elas
serão atendidas?
Os alunos ingressam a partir dos dois anos, embora que se o
diagnóstico e o encaminhamento ocorre pouco antes da criança completar essa
idade poderá ser atendida também; e não tem idade limite para o atendimento,
pois, uma pessoa com TEA pode necessitar de suporte ao longo de toda sua vida,
algumas com maior outras com menor intensidade.
Há algum trabalho em conjunto com a rede regular de ensino ou
outra instituição?
Sim, claro. Como um dos principais focos do Centro é justamente
facilitar o processo de inclusão dos alunos com TEA na rede regular de ensino é
desenvolvido um trabalho de orientação aos professores, visitas às escolas,
formação continuada e troca de informações sobre os alunos. Se não houver essa
parceria, não haverá inclusão – informação é conhecimento. E também há parceria
com a área da saúde, o Centro de Neurodesenvolvimento é um dos nossos grandes
parceiros, são neuropediatras, geneticistas e outras pessoas da área clínica
com as quais trocamos informações, para que os nossos alunos tenham um melhor
desenvolvimento.
De forma geral, quais são os objetivos do Centro?
Buscamos desenvolver as potencialidades dos alunos para que eles e
as suas famílias tenham melhor qualidade de vida. Que os comportamentos
peculiares do TEA sejam amenizados. Que o aluno se desenvolva em todas as
áreas, como na aprendizagem de atividades diárias, coordenação motora etc. Mas
o foco principal é facilitar a inclusão nas escolas o que também permeia
inclusão em outros espaços e situações que a vida exige.
Qual o maior obstáculo que vocês tentam vencer?
A maior dificuldade que tentamos vencer é a falta de informação. É
o não saber sobre. Tanto nas escolas, onde os professores não têm conhecimento
de estratégias e metodologias de ensino e das reais possibilidades dos alunos
especiais, quanto na sociedade de uma forma geral que não entende o portador de
TEA, não compreende que os comportamentos podem variar, existem casos mais
severos e outros menos.
Deve existir a concepção de que os comportamentos dos portadores
do Transtorno do Espectro Autista podem melhorar e que há como qualificar essas
pessoas; muitos são, inclusive, inseridos no mercado de trabalho.
Quais são os projetos futuros ou atuais?
Nós temos recebido muitas visitas de pessoas de outros municípios
interessadas na forma de organização, atuação e mobilização inicial do Centro,
que buscam saber o caminho que percorremos para chegar “aqui”. O que nos
leva a crer que outras cidades podem vir a realizar o mesmo trabalho.
Temos também parcerias firmadas na Universidade Federal de
Pelotas, deixamos esse campo de estágios aberto, o que nos permite hoje ter
projetos de formação e atuação dos alunos, como o “Pet Terapia” da Veterinária
e o “atendimento aos pais” realizado pelos alunos da Psicologia.
Sabemos que ninguém faz nada sozinho, é preciso que a gente tenha
muitas parcerias e divulgue o nosso trabalho o máximo possível para ter
sucesso!